19/07/2022

Superação nas piscinas: Daniel Dias fala sobre sua jornada como nadador paralímpico


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Em entrevista à Revista Anapp, o atleta relembra momentos marcantes de sua carreira e conta sobre seus projetos futuros

Daniel Dias, atleta e nadador profissional, conquistou um total de 27 medalhas em Jogos Paralímpicos

Daniel Dias só tinha 16 anos quando decidiu se tornar um nadador profissional. A vontade surgiu ao assistir aos Jogos Paralímpicos de Atenas, em 2004. De lá para cá, o atleta já ofereceu aos torcedores brasileiros momentos de grande emoção, além de inspirar famílias e crianças de todo o país com a perspectiva de que pessoas com deficiência também podem alcançar o sucesso. Daniel Dias, que superou barreiras e conquistou um total de 27 medalhas em Jogos Paralímpicos, nos presenteia nesta edição da Revista Anapp com uma entrevista emocionante sobre sua carreira e perspectiva para o futuro.

O atleta conta que, desde muito cedo, o esporte teve grande influência em sua vida. “Eu sempre gostei de esportes, mas não sabia que existia o universo paralímpico. Eu até sabia nadar, mas não conhecia os quatro estilos. Sabia o suficiente para não me afogar. Foi em 2004, quando assisti aos Jogos de Atenas e vi outro grande atleta brasileiro competindo e conquistando medalhas, que decidi começar. Aprendi muito rápido e fui lapidando esse dom”, afirma.

Apesar do sucesso, o início da carreira foi marcado por momentos bastante desafiadores. Entre os principais, Daniel menciona o preconceito e a dificuldade em conseguir apoio de patrocinadores. “Ter que lidar com o preconceito é um desafio grande e eu tive que lidar com isso na infância. Hoje eu entendo que, a cada conquista, essa barreira foi se quebrando até que fosse superada. Receber apoio para o esporte também é difícil, principalmente para um atleta paralímpico. Esse foi um desafio que superei ao longo do caminho e, felizmente, continuamos com parcerias consolidadas por um longo tempo”.

Sempre muito competitivo, Daniel conta que o esporte o ensinou a lidar com a competitividade de maneira saudável. Ele também compartilha a experiência de ganhar a atenção dos brasileiros e perceber que havia grande expectativa sobre si. “Sempre busquei olhar com bons olhos. Essa expectativa vinha acompanhada do carinho e da torcida do povo brasileiro, e era gratificante ver as pessoas torcendo por mim e me vendo como inspiração. Vejo como algo positivo porque, quem diria que uma pessoa com deficiência poderia se tornar um orgulho para sua nação? Eu vejo como uma quebra de paradigmas”.

Ainda assim, Daniel explica que como atleta profissional, é importante saber lidar com a “pressão” do público para que seja sempre algo positivo e não atrapalhe o foco nem o desempenho. Para ele, um bom atleta deve ser determinado, para não deixar que situações externas o façam perder o foco e desistir dos objetivos. Além disso, ele deixa um conselho de ouro para os atletas da próxima geração. “Sorria! O sorriso faz com que a gente supere as dificuldades e os obstáculos. E acredite em você. Não coloque limites de realização ou capacitação porque todos somos capazes de realizar grandes feitos quando entendemos a força interior que existe em nós”.

Quando perguntado sobre os momentos mais marcantes de sua carreira, Daniel menciona três deles: a primeira prova e a primeira medalha de ouro em Pequim, no dia 7 de setembro de 2008. “Minha história começava ali”, lembra. Ele também fala sobre os Jogos do Rio e a emoção de competir em casa, sendo assistido de perto pela família e os amigos. “Ver a galera vibrando e conhecendo mais do esporte paralímpico foi muito importante. E além de tudo, eu estava em casa quando me tornei o maior medalhista paralímpico. Deixei ali um legado intangível quando vi uma criança na arquibancada dizendo que eu era seu exemplo. Eu estava sendo visto não só como atleta, mas como uma pessoa que havia alcançado a superação”.

Para Daniel, o último momento de sua carreira como nadador, em setembro de 2021, também foi muito marcante. “Foi minha última prova como atleta profissional e foi muito especial. Eu dediquei minha vida a isso, foram 18 anos, e dizer adeus traz à tona muitas emoções. Lembro que senti um frio na barriga e uma adrenalina muito forte. Foi um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida”, completa.

Ao ver sua história mudar por conta do esporte, Daniel acredita que essa prática pode impactar positivamente a realidade de muitas crianças e adolescentes brasileiros. “Acredito que a ferramenta esporte pode trabalhar muitos valores nas nossas vidas e, para isso, temos o Instituto Daniel Dias. Estamos falando de pessoas com e sem deficiência, em um ambiente em que podemos trabalhar a inclusão, mesmo que nem todos os envolvidos se tornem atletas profissionais. Existem pessoas de todos os jeitos e a deficiência nunca vai definir um ser humano. O esporte nos ajuda a entender que somos iguais mesmo nas nossas diferenças e mostra, de forma simples, que todos nós podemos atravessar uma piscina”.

Para o futuro, o atleta deseja continuar empenhado no trabalho realizado pelo Instituto. “Esperamos continuar trabalhando o esporte como ferramenta de inclusão. Hoje atendemos crianças, não só com deficiência, mas também em estado de vulnerabilidade. Eu encerrei minha carreira como atleta, mas nunca me vi distante do esporte, só estou inserido nele de um jeito diferente, com o objetivo de transformar vidas e ser uma ponte para famílias que precisam de auxílio. É a isso que tenho me dedicado agora”, afirma.

Aos torcedores que sentem falta de ver Daniel dando um show nas piscinas, o atleta também sente essa falta e agradece a todos pelo carinho que recebe até hoje. “Já sinto essa saudade de competir e representar meu país. Continuo recebendo muito carinho e isso me deixa muito feliz. Competir foi um dos maiores privilégios da minha vida, ainda mais com a torcida brasileira. Não existe torcida como a nossa. À Revista Anapp e a todo o povo brasileiro deixo meu agradecimento e peço que continuem torcendo pelos atletas paralímpicos. Temos grandes nomes representando nosso país”, conclui.

 

Fonte: Revista ANAPP Ed. 163