19/12/2023

Biofilia: a busca pela reconexão com a natureza


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Áreas externas bem trabalhadas que envolvam os usuários de cores, aromas, flores e texturas diferentes fazem parte da tendência da próxima década

Apesar de ser uma ciência estudada desde 1960, a biofilia só ganhou força nos últimos anos, quando percebeu-se que a urbanização acelerada diminuiu a qualidade de vida. Começava então, um movimento reverso de tornar as cidades mais verdes e reconectar o homem ao meio ambiente.


 

A pandemia mundial enfrentada no último ano apenas evidenciou a necessidade do ser humano de estar envolto pela natureza, seja nos jardins verticais ou nas áreas de piscinas e lazer residenciais. “Hoje existem estudos científicos que comprovam o que a gente já sabia: estar cercado de verde faz bem para a saúde, traz bem-estar e felicidade. E isso se reflete inclusive nas áreas de lazer. Por que a água, a piscina, encanta tanto? Porque nós, seres humanos, somos feitos de água!”, pondera o arquiteto paisagista e ex-presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), Benedito Abbud.

 

Com 51 anos de profissão e mais de cinco mil projetos com área molhada desenvolvidos, Abbud destaca que o conceito de piscina mudou muito ao longo dos anos, se afastando cada vez mais da concepção de tanque e se aproximando da ideia de piscinas naturais. “As pessoas querem se reconectar com a natureza e trazê-la para perto, para dentro dos seus lares. Por isso, os projetos cada vez mais têm levado em consideração grande quantidade de vegetação na área da piscina, envolvendo os usuários com aromas, flores e texturas diferentes, trazendo essa sensação de bem-estar e tranquilidade”, explica.

De acordo com o especialista, piscinas que se aproximem do conceito de praia também têm ganhado espaço entre os projetos residenciais. Com caimento suave e revestimentos que lembram areia do mar. “Um dos principais projetos que estou desenvolvendo hoje é uma piscina de ondas com 230 metros de comprimento e areia de verdade na borda. É a âncora de vendas de um condomínio residencial no interior de São Paulo”, conta.

Abbud afirma ainda que os jardins biofílicos onde a piscina entra com um caráter de natureza, trazendo a ideia e uma sensação muito forte e presente de lago, também têm caído no gosto do brasileiro. Esse tipo de estrutura se aproveita de pedras e revestimentos naturais em sua construção e ainda a inclusão de peixes e plantas aquáticas no seu interior. “Esses são projetos exclusivamente residenciais porque a água também passa por um tratamento mais natural, sem produtos químicos. Mas com o interesse cada vez maior e a tendência crescente à biofilia, a expectativa é que, nos próximos anos, as piscinas naturais também sejam certificadas pela legislação sanitária e possam ser utilizadas em condomínios e clubes”, afirma.

Para Abbud, a biofilia representa o resgate da cidade para as pessoas. Nesse processo de tornar as cidades mais verdes a piscina se torna um dos protagonistas porque leva a natureza para dentro dos lotes e das residências. “A biofilia é muito mais do que a novidade da flor da moda, é uma nova diretriz de investimentos para as próximas décadas. Ou seja, é uma tendência de longo prazo e a pandemia apenas ressaltou a necessidade do retorno ao verde e à natureza. Diante desse cenário, as áreas externas bem trabalhadas e tratadas com a água ganham protagonismo e se tornam fundamentais nesse processo”, finaliza.

 

Fonte: Revista ANAPP Edição 155