15/12/2017

Simplesmente perfeita!


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Por Fernando Inocente 

Ícone do surfe mundial cria onda dos sonhos no ‘quintal’ de casa – só que a mais de 160 quilômetros do mar.

A onda perfeita. Esse é certamente o sonho de 10 entre 10 surfistas profissionais. Mas será que ela realmente existe? Onde está? Qual o tamanho? O fato é que até pouco tempo atrás essas perguntas teriam várias respostas, opiniões e, claro, muita polêmica. Só que agora é possível afirmar que a tal onda perfeita, pelo menos no sentido da estrutura e formato, já existe e foi criada por um profundo conhecedor da causa. Uma lenda que passou boa parte da vida conquistando títulos e mais títulos mundiais como surfista profissional: o norte-americano Kelly Slater. Ele é hendecampeão ou undecacampeão (11 vezes) mundial de surfe e, aos 44 anos, segue batendo recordes e inspirando jovens apaixonados pelo esporte. Para quem não o conhece, o “cara” é tipo o Pelé do surfe. Nada mal, não?

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Fenomenal

Não foi da noite para o dia que a piscina que forma a onda dos sonhos, com possibilidades de grandes tubos e infindáveis manobras, foi construída. Slater e sua equipe passaram quase 10 anos trabalhando nessa tecnologia de ondas artificiais. O lançamento do projeto, em dezembro de 2015, teve grande repercussão com a divulgação de um vídeo do astro surfando, literalmente, sua onda.

Localizada na cidade de Fresno, no estado da Califórnia (EUA), a piscina que revolucionou o surfe mundial está, curiosamente, a aproximadamente 160 quilômetros de distância do mar. Embora tenha sido amplamente divulgada na mídia a partir de vídeos nas redes sociais do próprio Kelly Slater e de surfistas do circuito profissional, a empresa não dá detalhes sobre o projeto, especificações ou mesmo a localização exata da piscina de ondas.

Ainda assim, a iniciativa foi tão elogiada que a própria Liga Mundial de Surfe (WSL, sigla em inglês) adquiriu a participação majoritária da Kelly Slater Wave Company (KSWC), empresa responsável pela criação do projeto. De acordo com o anúncio feito pela entidade em maio de 2016, o objetivo com isso foi promover o crescimento do esporte no mundo, democratizando o surfe e auxiliando na formação de atletas, assim como surfistas iniciantes em regiões não banhadas pelo mar.

Em nota, o CEO da WSL, Paul Speaker, enfatizou que essa é primeira vez que uma onda pôde ser reproduzida de forma convincente e isso proporciona a ampliação dos horizontes do esporte para amadores e atletas profissionais. “Enquanto o surfe de alto desempenho é a principal missão da WSL e da KSWC e os atletas poderão treinar em longos tubos e ondas simétricas, a tecnologia é flexível e também pode criar ondas variáveis para iniciantes e surfistas intermediários.” É o cenário perfeito para as crianças, que podem pegar algumas ondas, desde que saibam nadar, depois da escola, sem que os pais se preocupem com as correntes ou outros perigos do oceano.

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Mecanismo

Piscinas de ondas não são algo novo no mercado – já existem muitas em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil, em alguns parques aquáticos, por exemplo. As primeiras versões desses geradores de onda trabalhavam bombeando grandes quantidades de água para câmaras especiais, que depois enviavam de volta para a água para a piscina com ar comprimido. Embora esse método consiga produzir ondas de até quatro pés (pouco mais de 1,20 m), ele apresenta dois problemas: o primeiro, a exigência de grande quantidade de energia; o segundo, um intervalo de 90 segundos entre as ondas.

Já os projetos mais recentes, por sua vez, como o Wavegarden, utilizam o mecanismo de formação de ondas que deslizam ao longo do fundo da piscina. Assim, duas ondulações se formam de ambos os lados de uma plataforma central, produzindo, simultaneamente, uma à esquerda e outra à direita. Ao final da trajetória, o mecanismo dá uma volta de 1800 e produz mais duas ondas na direção oposta. Esse, de acordo com especialistas, era um formato, até então, mais atraente para investidores e surfistas, já que produz mais ondas em menos tempo, o que permite mais pessoas por sessão, e o seu design eficiente utiliza menos energia, reduzindo os custos operacionais.

O que se sabe sobre a piscina de Slater é que ela funciona 100% por meio de energia solar. O surfista, aliás, é conhecido por sua preocupação ambiental, trabalhando sempre em vários produtos e marcas eco-friendly. A credibilidade do atleta e a repercussão do tema foram fundamentais para que o surfe fosse incluído oficialmente como um esporte olímpico. Pela primeira vez na história, a modalidade será disputada nos Jogos de Tóquio, em 2020. Em ondas artificiais ou mesmo no mar, o esporte promete grandes disputas por medalha e, principalmente, proporcionar imagens incríveis.

Fonte: Revista Anapp – edição 131