06/10/2016

Estrutura para a construção da Piscina


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A construção de piscinas nos mostra interessantes situações que podemos analisar para entender como as cargas são fornecidas e absorvidas em uma estrutura. Os leigos pensam que uma piscina deve ter estrutura extremamente forte, para aguentar o “peso” da água. Mas será que isto é verdade? Nem sempre, conforme demonstramos a seguir.

A questão é entender o princípio estrutural, o modelo físico e matemático que nos mostra como as forças serão originadas e quem vai resistir a elas. No caso acima, onde o leigo pensa que a estrutura deve suportar o “peso” da água, o modelo estrutural seria equivalente a uma bacia ou tanque, um vasilhame qualquer, que se encheria de água, algo similar à figura abaixo:

Nos líquidos, a pressão se propaga uniformemente em todas as direções. Assim, o peso da água se distribui pelas paredes do “vasilhame” que, no caso acima, é a estrutura suportando o peso da água. Portanto, as cargas laterais A e B teriam que ser suportadas pelas respectivas paredes, que funcionam flexionadas tanto na vertical quanto na horizontal. Já o peso da água em si vai ser transmitido ao fundo do recipiente e deste para o solo.

Mas este esquema estrutural só é válido para o caso de piscinas elevadas, onde as paredes ficam acima do nível do solo e que são raras, usadas apenas em casos especiais como piscinas em apartamentos, aquários e ornamentais. No geral, as piscinas ficam mesmo é enterradas, neste caso a dissipação das cargas fica assim:

O que mudou? A carga C continua sendo mandada para o solo, mas as cargas A e B são suportadas não mais apenas pelas paredes laterais, mas também pela terra que fica ao lado, ajudando na resistência das paredes. Mas será que é bem assim, ou seja, a água fazendo peso sobre a terra? Veja o que aconteceria se retirássemos a água da piscina:

Nos pontos de união entre a estrutura nova e a antiga deve ser dada atenção especial à impermeabilização, que deve ser bem flexível pois é um ponto mais sujeito à trincas e esforços adicionais, até porque o terreno em volta da piscina, que já estava acomodado, vai ser revolvido e precisará de um certo tempo (até anos!) até voltar à estabilidade. Este processo causará movimentos, por pequenos que sejam, mas que podem causar fissuras e vazamentos.
Agora sem o peso da água, a terra é que passa a pressionar as paredes da piscina, afinal, ela também é pesada. A lateral da piscina passa a funcionar como um muro de arrimo, fazendo com que as paredes tenham esforço ao contrário. Ué, mas e quando a água estava na piscina, a terra não fazia peso sobre as paredes? Claro que sim, e é aí que queríamos chegar… ou seja, quando a piscina está enterrada, ao contrário do que muitos pensam, é a terra que pressiona as paredes — e não a água que faz peso sobre as laterais…

Isto acontece porque a terra é mais pesada que a água. Um metro cúbico de terra pesa entre 1.200 a 1.600 Kg enquanto que o mesmo volume de água pesa 1.000 Kg, ou seja, se fizermos um buraco na terra e enchermos de água, temos que cuidar na verdade é para que a terra fique firme, pois sua tendência, como é mais pesada, é empurrar a água e desbarrancar. Para que serve, então, a estrutura de concreto ao redor da piscina?

A estrutura tem duas finalidades principais: segurar a terra ao redor da piscina, e também para servir de base para a impermeabilização e acabamento. Vejamos em detalhes:

Contenção da terra 

Como vimos, quando a piscina está vazia a terra tenderia a desmoronar, isto só não acontece porque está contida pelas paredes laterais da piscina, resultando em carga sobre elas. Mesmo quando a piscina está cheia, a terra continua a pressionar pois é 20 a 60% mais pesada que a água, apesar de menos fluida.

Mas isto é teoria, na prática a terra pode estar mais ou menos compactada, aderida ou não às beiradas da piscina. Assim, a boa norma de projeto de laterais de piscina recomenda armação nos dois lados, ou seja, as paredes e fundo podem funcionar tanto recebendo esforço de dentro para fora quanto vice-versa, além de resistir também à torção, para o caso de ocorrer recalque diferencial, ou seja, se uma parte do solo afundar mais do que outra, a estrutura estará apta a resistir aos esforços desta mudança de apoio, sem fissuras que comprometam a estanqueidade. É necessário que a estrutura mantenha sua rigidez, para que possa dar suporte à impermeabilização e aos acabamentos.

Impermeabilização

É uma questão muito importante nas piscinas, pelo lado financeiro e também pela estabilidade estrutural. É caro manter milhares de litros de água tratada, se houver vazamentos boa parte desta água voltará à natureza e precisará ser reposta, gastando não só com a água em si mas também com energia elétrica para bombeamento e com os tratamentos que a água precisa para ficar adequada à uma piscina.

Outro ponto crítico dos vazamentos é quanto à estabilidade dos talude laterais. As infiltrações sempre tendem a aumentar, pois a água começará a carrear terra, aumentando o esforço sobre a estrutura que já está trincada, com isto aumentará a infiltração e carreará mais terra, num ciclo vicioso que levará ao aumento as fissuras e à perda de milhares de litros de água tratada por mês.

Assim, é importante que a estrutura tenha rigidez condizente com o tipo de impermeabilização usada. Por exemplo, uma impermeabilização rígida com produtos tipo “Vedacit” e “Neutrol” precisa de uma estrutura indeformável, pois qualquer movimento causará fissuras que se transformarão em trincas e possivelmente em rachaduras.

Uma impermeabilização mais elástica como, por exemplo, usando manta asfáltica, aceitará uma estrutura menos rígida, algo como uma estrutura mista de concreto e blocos estruturais. Uma opção interessante é o uso de fibra de vidro, que forma ao mesmo tempo a estrutura e a vedação da piscina, além de agilizar a construção.

Acabamento

O tipo de acabamento está ligado ao tipo de estrutura e de impermeabilização. Azulejos suportam pequenos movimentos estruturais, desde que a impermeabilização fique intacta. As lonas vinílicas são mais flexíveis, indicadas para casos onde a estrutura não é inteiramente rígida ou onde a piscina está localizada em solo instável, que pode causar esforços adicionais à estrutura e esta vir a fissurar. As piscinas também podem ser pintadas com tintas especiais, enfim, há muitas opções e considerações a serem feitas quanto ao revestimento de piscinas, mas não vamos nos estender neste tema aqui neste artigo.

Reforma de piscina

Até agora o que vimos foram considerações sobre a construção de piscinas novas. E quando precisamos reformar uma piscina existente?
Bem, vamos pensar… A reforma seria necessária porque:
• O revestimento está ruim, ou
• A piscina está vazando, ou então
• A tubulação está necessitando de manutenção, ou ainda
• Necessita-se aumentar ou diminuir o tamanho da piscina.

Nos três primeiros casos a grande preocupação deve ser quanto à impermeabilização. É preciso a todo custo manter a estanqueidade, se estiver em dúvida é melhor refazer toda a impermeabilização, ainda mais se estiver trocando o revestimento cerâmico. Piscinas pintadas, de fibra de vidro ou com revestimento vinílico podem ser reparadas, tomando-se todas as preocupações quanto à impermeabilidade nas paredes e, principalmente, quanto à vazamento no locais de conexão das tubulações, causa freqüente de problemas.

A grande questão fica, portanto, para os casos onde é preciso alterar o tamanho ou formato da piscina. Neste caso, a rigidez estrutural necessita ser mantida, sendo portanto mais fácil diminuir do que aumentar a piscina, pois o tamanho menor por si próprio já é mais rígido. Recomenda-se a consulta a um engenheiro estrutural, que vai recomendar a melhor forma de amarrar a estrutura nova à antiga, de maneira que a união seja adequada.
Fonte: Fórum da Construção