13/03/2019

Tratador de Piscina em alta


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Especialistas avaliam que mercado está em crescimento e necessita de profissionais qualificados. Ganhos podem chegar a 6.000 reais por mês

Por Rúbia Evangelinellis

Gledson, Messias, Antonio e Marcio fazem parte do grupo que valoriza a profissão de tratador de piscina. São profissionais que atuam no mercado, até como agentes multiplicadores de conhecimento e que aprenderam o serviço na prática e estudando. Eles destacam a importância da qualificação, do estudo continuado e da reciclagem para que o serviço seja bem feito. Formado em biologia e química, Gledson Eduardo Ribeiro aprendeu na prática a profissão, exercida por 15 anos, e o que foi o pontapé inicial para o seu ingresso no mundo dos negócios, onde habita por 25 anos. Atualmente é dono da loja EG Piscinas, de Sorocaba/SP, que oferece aos clientes serviço de limpeza de piscinas realizado pela equipe formada e treinada por ele, e que no momento possui oito integrantes. “Oferecemos um tratamento profissional da água. Medimos ácido, alcalinidade, pureza (ou dureza), cloro livre, cloro combinado e PH. Fazemos um “raio X” da piscina e atendemos residências, academias, condomínios e clubes”, acrescenta.

Exigências

Atualmente, Gledson não trata diretamente de piscinas, mas, como diz, se necessário, coloca a mão na massa e vai a campo. O seu papel no momento é de orientador, professor da equipe, do tipo que cobra a lição, o estudo e exige treinamento contínuo. Na rotina dos tratadores estão aulas semanais e provas de conhecimentos técnicos aplicadas uma vez por mês. Se a pessoa acertar todas as respostas, fica liberada do treinamento do próximo mês, mas tem de fazer a prova seguinte. Todos são contratados sem experiência. Chegam, na maioria das vezes, por indicação de quem já trabalha na empresa, mas também são aceitos currículos de interessados. Como pré-requisito é preciso ter ensino médio e carta de motorista. Dá-se preferência a candidatos casados, de 28 anos para cima, como forma de selecionar pessoas mais maduras e comprometidas: “Conosco aprendem, por exemplo, cálculo de produtos, de redutor, limpeza de borda, escovação. Todo o procedimento para o tratamento de água químico e físico.”

No treinamento, os tratadores também são instruídos de como devem se comportar no local de trabalho. O tratador da sua equipe ganha em torno de 3.000 mil reais por mês, e com registro em carteira. Em relação à regulamentação norma 10.339 da ABNT, Gledson disse que a conhece bem, mas entende que teria de haver uma maior divulgação até para difundir as exigências junto aos condomínios.

Crítica e sugestão

Ao avaliar o mercado, Ribeiro critica o trabalho feito por pessoas despreparadas, que não estudam e se apresentam indevidamente no local onde está o cliente, com chinelo, bermuda e camiseta regata, e que “nem fazem o cálculo para tratar a água quimicamente, o que é um risco”. Na sua opinião, esse tipo de problema deveria ser combatido com a valorização e certificação da categoria. Ele sugere que a ANAPP atue como órgão regulador, aplicando uma prova e certificando os aprovados para o exercício da profissão, por um período de dois ou três anos: “Seria uma forma de criar um diferencial na hora em que o tratador se apresenta ao cliente como associado e com qualificação reconhecida pela ANAPP”.

Discípulo

Um dos seus alunos que seguiu carreira solo foi Messias Souza Silva, de 29 anos. Sua trajetória na área teve início em 2014. Antes trabalhava em uma indústria, como químico responsável do departamento de controle de qualidade de artefatos cerâmicos. Nascido em Jumirim, interior de São Paulo, fez curso técnico de química em Tatuí, outra cidade paulista. Com o diploma nas mãos, candidatou-se à vaga aberta na EG Piscinas. E, mais uma vez, arrumou as malas e mudou-se para Sorocaba. “A área química é bastante abrangente. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar com o Gledson, enxerguei a oportunidade de crescimento profissional. No começo acompanhava os colegas mais experientes, para aprender a prática do serviço”, lembra. Silva entende que o seu conhecimento técnico foi fundamental para acelerar o aprendizado, além de contar com a possibilidade de ser preparado por quem tem conhecimento químico e de biologia, referindo-se a Gledson Ribeiro. Lição aprendida, após um ano e meio, Messias decidiu arriscar a sorte sozinho. “Ali absorvi boa parte de know how que tenho hoje”.

Sou MEI

Ele atua em Sorocaba como microempreendedor individual. Mas já pensa em contratar uma pessoa para ajudar no serviço, ensinar o que sabe, uma vez que o volume de pedidos está aumentando. “Tenho de 48 a 50 clientes fixos duas vezes por semana. São residências. Mas para aumentar a carteira, é preciso entender que o crescimento tem de ser acompanhado de qualidade no atendimento”, define. Na sua avaliação, o bom profissional tem de ter conhecimento teórico e prático, sendo que um não dispensa o outro. E esse perfil, acrescenta, falta no mercado. “O que você encontra são tratadores que fizeram o curso de cinco horas, em um dia. Ninguém consegue apreender o necessário em tão pouco tempo”, diz Souza, que contabiliza ganho bruto na faixa de 6.000 a 6.500 reais por mês. Mas avisa aos interessados que o ritmo de trabalho é intenso no verão e, não raro, começa às seis horas e vai até às 20h.

Professor

Antonio Correa Vianna Neto é outro mestre no tema. A ponto de ganhar a vida ministrando cursos de capacitação de tratadores de piscina em diversas regiões do País. É dono de uma escola profissionalizante a “O Piscineiro”. Explica que começou a atividade de ensinar por carência de profissionais o mercado há cinco anos e que tem 12 anos de experiência na atividade. “A bem da verdade, quando montei a empresa era para oferecer o tratamento e prestar consultoria sobre o assunto e em instalações hidráulicas, elétricas e de automação.” Incialmente, ele havia preparado uma apostila para treinar a sua equipe e prestar assistência a cerca de 90 piscinas. Mas passou a ser solicitado como consultor de tratamento de piscina para condomínios, clínicas, academias. Acabou adotando o mesmo material didático para essas empresas com ótimo resultado. tadores. E crê na importância de os candidatos terem no mínimo o ensino fundamental completo para que consigam acompanhar as aulas. Entre os temas de estudo estão microbiologia e risco de saúde ocupacional (como forma de prevenção a acidentes provocados pelo manuseio indevido de produtos químicos ou de armazenamento inadequado). Seu curso é 40% teórico e 60% prático e com duração de dois dias para turmas pequenas e de quatro dias para turmas acima de 12 alunos. Questionado se o tempo de curso é suficiente para ensinar as técnicas, ele diz que acompanha o desenvolvimento de cada aluno e, quando a pessoa não consegue acompanhara a aula, aí não tem como continuar com a capacitação. “O primeiro passo do piscineiro é fazer conta, saber geometria, para calcular o volume de água a ser tratado, tem de saber interpretar, por exemplo, a tabela de volume e vazão”. Em suas contas, um bom piscineiro ganha de 4.000 a 6.000 reais, mas pode chegar a 20 mil reais, caso mantenha uma boa estrutura e qualidade. Geralmente alguns acabam desenvolvendo a atividade e se tornam lojistas, até como consequência das atividades exercidas. Em relação à importância da norma ABNT NBR 10.339/2018, para a regulamentação da profissão, Antonio Neto diz que aborda muito mais a instalação de equipamentos. É o caso do skimmer, considerado peça fundamental para manter a qualidade e o tratamento da água, sugando detritos e auxiliando a limpeza da superfície, além do que, é um mecanismo que amplia a qualidade da limpeza da água aos usuários. “Agora é preciso estar atento à instrução de instalação, para que não perca o efeito.” O profissional bem treinado tem de estar atento também ao entorno da piscina, como vestiários, lavapés, cadeiras e espreguiçadeiras, que podem ser focos de contaminação. Toda essa área tem de ser limpa e sanitizada”.

Do futebol para a piscina

Marcio dos Santos Vieira, gaúcho de 41 anos, mas residente em Chapecó (SC), estudou com Antonio Neto. Formado em educação física, técnico de edificações e ex-jogador de futebol, passou por 11 times, entre os quais o Grêmio (RS). Optou há dois anos pela profissão de piscineiro e desde então busca o conhecimento, principalmente da área química. “Se o cliente questionar, você tem de saber o que responder”, diz lembrando a importância do estudo contínuo. Antes de ingressar no mercado, trabalhou em confeitaria e siderúrgica, entre outras atividades exercidas. A ideia de investir no ofício surgiu a partir de conversa com um conhecido, que reclamava da carência de profissionais habilitados para limpar a piscina e com endereço profissional fixo. Foi então que decidiu se capacitar e montar uma empresa de manutenção. Entrou em contato com Antonio Neto e dirigiu- -se à Indaiatuba (SP) para fazer o curso de quatro dias. Isso foi no final de 2016. Atualmente tem uma loja, a Doutor Piscina Chapecó. Cuida da limpeza semanal de 42 piscinas residenciais com uma equipe com quatro piscineiros, jovens de 22 a 27 anos, treinados por ele. “A minha primeira exigência é pontualidade, comprometimento com o trabalho, e o primeiro grau completo.” O ganho médio do tratador, calcula Marcio, gira ao redor de 2.500 a 3.000 reais para quem trabalha como autônomo. Ele oferece registro com ganho fixo de 1.800 reais e benefícios. O preço cobrado dos clientes fixos, com contrato anual, é de 250 reais por mês para quatro limpezas no período. Para visitas eventuais, o valor está em 100 reais pela limpeza, fora os produtos necessários.

Fonte: Revista ANAPP Edição 144