23/11/2018

Rainha das piscinas


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Por Sergio Kapustan

 

Hoje dona de uma escola de modelo em Porto Alegre, Deise Nunes revela à Revista ANAPP que perdeu a faixa de Rainha das Piscinas 1984, mas que guarda na memória cada momento que viveu, derrotando, aos 16 anos, 77 candidatas, além de quebrar a barreira do preconceito racial. Até então, a desconhecida porto-alegrense ostentava o título de Rainha da União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre (Umespa). Negra, de família humilde, ela se elegeria em 1986 miss Brasil, fato inédito até então, e depois foi finalista do Miss Universo. “O Rainha das Piscinas foi o pontapé de tudo por me dar visibilidade para o mundo”, destaca a gaúcha que mantém a beleza que surpreendeu e encantou milhares de pessoas no meio da década de 80.

Na época, o concurso Rainha das Piscinas, que deu seus primeiros passos nos anos 50, tinha o patrocínio do extinto grupo jornalístico Caldas Junior. Com ampla cobertura de rádio, televisão e jornal, era realizado no fim do verão e considerado uma vitrine de beleza e até mais importante do que o Miss Rio Grande do Sul, que ela também venceu. Antes de Deise Nunes, o concurso já havia revelado outra beleza: Ieda Maria Vargas. Em 1962, com 17 anos, Ieda elegeu-se Rainha das Piscinas e, no ano seguinte, foi miss Brasil e miss Universo, nos Estados Unidos, tornandose a primeira brasileira a conquistar o título. Deise conta que foi também a primeira negra a disputar o titulo gaúcho das piscinas, defendendo as cores do Internacional, time de futebol que tem como símbolo o Saci, lenda do folclore brasileiro: “Recebi o convite de um diretor de marketing do clube (Paulo Franchini). E depois a vida seguiu: Miss Brasil, carreira de modelo e viagens.” Entre os estilistas para quem desfilou está Clodovil Hernandes, que morreu em 2009, além de participar de programas de televisão, como Os Trapalhões e Chacrinha. Concurso mobilizava sociedade gaúcha Para se ter uma ideia do peso do Rainha das Piscinas na sociedade gaúcha, a escolha movimentava clubes e associações de todo o Estado. A final era realizada em ginásios lotados. A última etapa do concurso, que elegeu Deise Nunes, foi realizada no Gigantinho, ginásio do Internacional, tomado por 17 mil pessoas. Torcidas organizadas e bandas animavam a festa. Deise lembra que o clima de festa era restrito às arquibancadas. Nos bastidores, especialmente entre os jurados, a vitória de uma negra não foi bem aceita, mas, ao final, depois de uma longa espera, prevaleceu a vontade da maioria. Estado formado por milhares de descendentes europeus, o Rio Grande do Sul, ao final do concurso, assistiu a coroação de Deise Nunes no Rainha das Piscinas. “Foi um divisor de águas na minha carreira profissional”, reforça Deise Nunes.

 

Fonte Revista ANAPP Edição 140