19/12/2018

Recuperação na piscina


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Nadadores e jogadores de voleibol são exemplos de atletas que tratam lesões com o acompanhamento de médicos e fisioterapeutas

Por Sergio Kapustan

Com a expansão de vários esportes em escala mundial, como a natação e o vôlei, obrigando clubes e federações a investir em equipes cada vez mais competitivas, as piscinas se tornaram grandes aliadas quando o assunto é recuperação da saúde dos atletas.

Médicos, fisioterapeutas e professores de natação são consultados para recuperar e tratar os esportistas por conta de lesões provocadas pelos movimentos e impactos nas quadras, seja na água ou no piso duro. Segundo especialistas, o calendário enxuto e mal organizado, que obriga muitas vezes o atleta a enfrentar uma maratona de viagens e competições, é um dos geradores de problemas. Em muitos casos, a orientação é fazer a reabilitação na piscina devido à resistência da água – seja quente ou fria. A vantagem da piscina é que a parte muscular pode ser tratada sem a tensão do impacto sentido quando se trabalha apenas no chão. Uma das entidades que mais investe em esportes olímpicos, o Sesi-SP é referência no País nessa área. O setor de fisioterapia esportiva da unidade da Vila Leopoldina, na região oeste da Capital, disponibiliza suas piscinas para atletas que defendem as cores do Sesi-SP, e são mundialmente conhecidos, entre eles a nadadora Etiene Medeiros, e duas estrelas do voleibol: o líbero Murilo, campeão olímpico, e o levantador William. Etiene Medeiros é destaque da natação no País. Ela foi a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro na modalidade de piscina curta em Doha-2014. Ganhou também o ouro nos Jogos Panamericanos de Toronto- 2015 (100 metros costas). A carreira da atleta teve uma breve interrupção em janeiro deste ano, quando operou o ombro, após sofrer uma lesão no final de 2017. Após a cirurgia, ela iniciou o tratamento na piscina na unidade da Vila Leopoldina, com o acompanhamento do supervisor de Fisioterapia do Esporte do Sesi-SP, Raphael Planas. Depois de recuperada, Etiene participou do Troféu José Finkel no Clube Pinheiros, em São Paulo, garantindo vaga para disputar o Campeonato Mundial de Natação em dezembro, em Hangzhou, na China. A nadadora dedicou o resultado ao seu fisioterapeuta. “Ganhei um irmão”, disse ela, ao lembrar o papel de Planas Esportes no pós-operatório, período em que frequentou a unidade até seis vezes por semana. “A maior conquista do profissional de fisioterapia esportiva é o reconhecimento do atleta”, afirmou Planas.Outra instituição que trabalha na recuperação de atletas é a Faculdade Clube Náutico Mogiano, em Mogi das Cruzes (SP). Com mais de 40 anos de existência, a escola orgulha-se de formar cerca de três mil profissionais nas áreas de Educação Física e Fisioterapia. O complexo de cinco piscinas (adulto e infantil) atende hoje dez competidores do próprio clube que disputam torneios de Natação e Ironman Triatlhon - natação, ciclismo e corrida, ex-atletas e 17 participantes do Projeto Paradesportivo. O ex-jogador de basquete Marcos Bastos e os atletas de Ironman Triathlon Alexandre Rezende Queiroz e Henrique Garcia Lores fazem a reabilitação aquática na instituição. A professora de natação e coordenadora da faculdade, Maria de Lourdes da Rocha, a Lurdinha, reforça que os atletas da instituição são orientados tanto para fazer a reabilitação na piscina como para praticar natação. “Isso proporciona um esporte completo, que facilita a perda de calorias, melhora da postura, da autoestima, e maior equilíbrio muscular”, explica a professora.

Tratamento e prevenção de lesões

Os especialistas explicam ainda que o contato com água provoca alterações fisiológicas no organismo das pessoas. Imerso na água, o corpo fica mais leve e mais resistente aos movimentos, fazendo com que o impacto dos exercícios sobre as articulações seja menor. Raphael Planas explica que, no caso do Sesi- SP, o uso da piscina com fins terapêuticos é feito de duas formas: com água quente (grupos de até oito pessoas), em tratamento denominado de Hidroterapia, e fria (até três pessoas), denominado de Crioimersão. “As sessões nas piscinas são importantes para fazer o tratamento e também para a prevenção de lesões”, explica. Quando está quente, diz o terapeuta, a água promove a vasodilatação, aumentando a irrigação sanguínea da pele e dos músculos, além de hidratar as mucosas, favorecendo o alívio da congestão nasal e de distúrbios respiratórios. A água fria, por sua vez, tem efeito contrário: de vasocontrição, diminuindo o fluxo sanguíneo, ajudando na prevenção de inchaços e reduzindo a dor muscular. Os especialistas chamam ainda a atenção para as diferenças entre Hidroterapia e Hidroginástica. A piscina para Hidroginástica tem a temperatura mais fria, em torno de 27°C, e maior profundidade; enquanto a piscina para Hidroterapia e recuperação tem a temperatura entre 33°C e 34°C, e menor profundidade. Esportes As abordagens terapêuticas também são diferentes: na Hidroterapia, há técnicas de relaxamento e manipulação que não fazem parte dos exercícios da Hidroginástica. Já na Crioimersão, a temperatura recomendada pelo Sesi-SP é de no máximo 10°C. Todas as equipes de alto rendimento fazem trabalho de recuperação na piscina, uma ou duas vezes na semana, a depender da intensidade e volume dos treinamentos. “Também utilizamos a piscina para a reabilitação dos atletas em determinada fase do tratamento”, explica Planas. Na questão do treinamento, o supervisor reforça que a piscina facilita e condiciona o movimento, sem que haja impacto articular. Em relação à fase de recuperação, os efeitos fisiológicos (no funcionamento do organismo) são: relaxamento muscular, facilitação do movimento, melhora da circulação geral, tendendo a reduzir a tonicidade dos ligamentos e tendões, além de reduzir a dor e os espasmos musculares.

Fonte: Revista ANAPP Edição 141